Meditações sobre a TPM

Por que temos TPM?
Não, não é uma pergunta de caráter científico, não me interessa saber sobre este ou aquele hormônio que subiu ou desceu durante o ciclo menstrual, sobre retenção de líquidos ou falta de nutrientes. Quero saber qual é a função evolutiva e social da coisa.
Fazia tempo que não passava por isso, na gravidez e no aleitamento os baratos e desgraças hormonais são outros. Então quando ela chegou desta vez, me pegou desprevinida, sem suspeitar que tamanho descontrole emocional vinha dela, bandida!
Andava muito irritada já há alguns dias, mas a gota d'água foi quando meu filho se recusou a comer a papinha (aquela dos legumes orgânicos, picadinhos, cozidos na panela de ferro, amassadinhos na peneira e tal...), e eu simplesmente comecei a chorar compulsivamente, frustrada, odiosa, muito contrariada, ou seja, naquele momento eu quis morrer. Não, não era pra tanto, ele só estava cansado e comeria mais tarde.

Aí me liguei: só pode ser TPM.
Mas pra quê isso meu Deus?

Então refleti.
Em condições ideais, num mundo mais flexível, sem tantos compromissos e exigências o que eu faria nessas condições? Já que me sinto socialmente inapta e desagradável, eu sumiria de cena, ficaria sozinha até me sentir melhor, até não ser mais arrebatada por pensamentos suicidas sem nenhuma razão aparente.

Logo concluí que a função da TPM deve ser justamente esta: pausa, descanso, descompressão, retirada, recolhimento, introspecção.

Tudo o que anda cada vez mais raro em nossas vidas de mulheres maravilhosas e incríveis, multi-funções, 24 horas sem parar...
O mal não é a TPM, é não ouvir nossos corpos e não respeitar nosso tempo.

Ilustração: Rodrigo Leão